Ultra dos Anjos Internacional – 235km!


Sonhos são realizados com a alma!!!

Costumo dizer que ultramaratonistas são corredores de alma ou em termos mais modernos corredores raiz, que não se importam com glamour ou modas passageiras.

Vai doer, coisas vão dar errado, o que você planejou cuidadosamente vai sair do seu controle, seu corpo não vai te obedecer, sua cabeça vai falhar… mas seu espírito vai estar lá te puxando até a linha final, te lembrando de cada coisa que você passou na sua vida.

Sim, correr uma ultramaratona do porte da UAI exige muito mais do que treinamento, exige vida… exige que todas as suas experiências sejam externadas e te impulsionem para dar mais um passo, só mais um passo, aliás essa é a oração do Ultramaratonista, vou dar mais um passo, só mais um passo.

Vou falar sobre a prova, mas ela vai ficar em segundo plano desta vez, porque ela é apenas a coroação de mais de 2 anos de planejamento, treino, dedicação, abnegação, sacrifícios e sonhos.

A UAI foi o primeiro contato que eu tive, após muito anos correndo, com o mundo da ultramaratona.

Fui convidado pelo meu amigo Tino a participar com ele e com mais dois caras que se tornariam grandes amigos Dr. Chen e Robertinho (esse é um capítulo a parte, o cara fez o pico do papagaio inteiro até o Espraiado do Gamarra, 38 k de subidas insanas em 4:30 h) em 2015 na modalidade quarteto 235k X-hard. Fomos com o intuito de nos divertir e acabar a prova vivos… rs…, como até hoje faço, e acabamos como campeões da prova e recordistas até hoje.

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Neste dia em meu coração eu falei um dia ainda vou fazer essa prova solo.

Após a UAI de 2015 fiquei 2 meses de molho para tratar uma inflamação no trato iliotibial e nesse período conheci melhor o Emerson Bisan e sua assessoria de corrida a Nova Equipe. Comecei a treinar com ele em meados de setembro daquele ano. Essa parceria me renderia muitos treinos, provas, resultados e grandes amizades.

Em 2016 grandes desafios foram vencidos e participei de provas que sempre quis fazer como a Bertioga Maresias 75k, onde exatamente no final da 2ª etapa de 2016 que eu e meu amigo Renan Collodoro, que já estávamos nos preparando para fazer a BR 135+ em quarteto, falamos de fazer algo grande como os 235 k da UAI. Levamos essa idéia ao nosso treinador e mestre Emerson Bisan que como poucos é aquele acredita nos sonhos das pessoas.

Também levei a minha companheira e parceira de vida Juliana essa idéia e me lembro como hoje ela me olhar com admiração e espanto e me dizer com aquele sorrisão assim: “vcs são loucos”… mas imediatamente topar o desafio e me apoiar inteiramente.

Com isso começou o planejamento, os treinos cada dia mais insanos, as conversas, as provas que nos preparariam, mas também toda a parte de dedicação, abnegação e falta de entendimento de muitas pessoas.

Quantos convites que precisamos recusar, quantos aniversários, festas, confraternizações, incluindo natal e ano novo, treinos insanos, né Emerson? Ah, como xinguei você tantas vezes sem entender aquele volume todo… As pessoas me diziam: “seu treinador é louco e ele vai machucar vocês.” Mas dentro de mim algo dizia faça o que o seu coração te pede: e eu confiei plenamente em um cara que detém não só o conhecimento técnico mas tem a experiência de mais de 70 maratonas e tantas outras ultramaratonas no currículo e isso me fazia seguir em frente.

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Planilha de treinos longos…

Os dias foram passando, os longões e provas cada vez maiores, nos deixando mais fortes e preparados, mas ali naquela planilha um muro muito alto me esperava: no dia 30 de abril, 150 k! Aquilo era muito insano pra mim fazer em um treino. Eu não me sentia preparado e confesso que por duas semanas briguei comigo para doutrinar minha cabeça dizendo que faria aquele treino e o completaria. Foram 23:30h em um treino mentalmente cansativo pela cidade de São Paulo, concentrando parte na USP e parte na Região do Parque do Ibirapuera.

Esse treino me fez crescer e me deixou com a mente forte e certo de que alguns ajustes eram necessários mas que eu completaria a UAI nem que fossem no tempo limite.

Passado esse treino e faltando dois meses da prova eu tinha que decidir sobre meu apoio… Minha linda esposa a qual sempre fez meus apoios de forma brilhante, estava grávida não poderia me acompanhar a não ser como fez em pensamento e em oração. Foi quando Deus agiu mais uma vez e me apontou carinhosamente 3 anjos que seriam fundamentais nessa jornada:

Osvaldo: um cara que eu admiro muito como corredor e pessoa, que viveu a história das corridas de rua de São Paulo. Nos conhecemos através de meu primo Sérgio, que sempre foi um ídolo nas corridas para mim. Participamos juntos de muitos desafios e viagens, ele sempre me orientando, acompanhando e torcendo pelo meu crescimento, e quem melhor para entender esse sentimento de querer fazer essa prova, já que ele estava comigo na primeira vez que a fizemos, porém estava em outro quarteto. Ós, você foi o equilíbrio, a experiência a segurança que eu precisei por todo o caminho, não existe forma de te agradecer pela amizade e pelo carinho, nem pelo seu tênis que me salvou… kkkkk

Luciana: dispensa apresentações, a conheci na BR que fizemos em quarteto como mencionei acima, e grande parte dos 42k iniciais ela correu perto da gente, o que dificultou muito pra ela poder aliviar necessidades fisiológicas… kkkkk Bom, ela simplesmente foi campeã da BR 135, já havia feito a UAI como atleta e como pacer, é uma das mais tops ultramaratonistas do país e me honrou quando despretensiosamente a convidei para integrar a equipe.

Danilo: o que falar da alegria desse amigo? Sempre sorrindo, sempre disposto, sempre falando a coisa certa, me dando força, sendo agradável com todos… um moleque com grande coração e grandes princípios que foi a alma dessa equipe e que se tornará um dos grandes ultras deste país.

Bom estou me prolongando e esqueci de falar da prova:

A prova é dividida em algumas categorias e começa com a organização da viagem, hospedagem, compras e mais compras de bebidas, comidas, petiscos, remédios, roupas, acessórios.

Percurso UAI

Percurso completo UAI 235k!

Itens obrigatórios de cada categoria:

FAST 25km: Mochila ou cinto de hidratação

EASY 65km: OBRIGATÓRIO: Mochila ou cinto de hidratação, apito e lanterna de mão e cabeça (+ pilha/bateria) ACONSELHÁVEL: Boné, viseira, Óculos escuros, corta-vento.

MEDIUM 95km: OBRIGATÓRIO: Mochila ou cinto de hidratação, lanterna de mão e cabeça (+ pilha/bateria), colete refletivo e apito. ACONSELHÁVEL: Boné, viseira, Óculos escuros, corta-vento.

HARD 135 km: OBRIGATÓRIO: Mochila ou cinto de hidratação, lanterna, lanterna reserva (cabeça ou mão), colete refletivo, pilhas sobressalentes, cobertor térmico, corta-vento e celular. Medicamentos: anti diarreico, antitérmico, analgésico e apito. ACONSELHAVEL: Lanterna strobo, cajado ou walkstick, saca de dormir, agasalho, calça segunda pele, luva e toca.

XHARD 235 km (Solo com apoio e Equipes de Revezamento): OBRIGATÓRIO: Carro de apoio, Mochila ou cinto de hidratação, lanterna, lanterna reserva (cabeça ou mão), colete refletivo, pilhas sobressalentes, cobertor térmico, corta-vento e celular. Medicamentos: anti diarreico, antitérmico, analgésico e apito. ACONSELHAVEL: Lanterna strobo, cajado ou walkstick, saca de dormir, agasalho, calça segunda pele, luva e toca.

XHARD 235 km SURVIVOR (Sem apoio): OBRIGATÓRIO: Mochila ou cinto de hidratação, lanterna, lanterna reserva (cabeça ou mão), colete refletivo, pilhas sobressalentes, cobertor térmico, corta-vento, agasalho, calça segunda pele, luva, toca, e celular. Medicamentos: anti diarreico, antitérmico, analgésico e apito. Alimentação extra, suficiente para percorrer aproximadamente 40 km ou a distância entre os PCs. A alimentação extra será útil em caso de acidente em que o atleta não possa se locomover e tenha que aguardar pelo resgate.

Para a modalidade de 235k solo com apoio, que foi a que eu fiz, existe um tempo limite de 60 horas, ou seja começa na sexta-feira as 8:00 h e vai até domingo as 20:00h.

Como de praxe a noite anterior arrumamos todo o carro de apoio, deixando definido onde cada coisa estaria, e quem seria responsável pelo que.

Não dormi quase nada, imaginando a prova e repassando a estratégia. Levantei por volta das 5:00 h, me arrumei tomei um belo café e partimos para a largada, onde encontramos muitos companheiros de equipe e vários amigos, aproveitando aquela vibe peculiar que antecedem as provas.

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Aqui cabe destacar a preleção feita pelo Mestre Emerson que chamou todos os atletas da Nova equipe e ao menos para mim as palavras dele soaram de forma a acalmar e ter a certeza de que estava preparado e que eu devia apenas estar pronto para se algo saísse do planejado. Depois muitas fotos o hino nacional, um tempinho concentrado para fazer uma oração e a largada foi autorizada.

Por volta de 200 atletas largaram, e os primeiros kilômetros são inteiros de alegria, muitas brincadeiras e muita energia. Eu sabia que era fácil me dispersar, e acabar imprimindo um ritmo mais forte do que deveria fazer naquele instante. Minha estratégia ao menos no inicio, foi colar em alguns atletas mais experientes, e não me deixar empolgar por aqueles que iam mais a frente, até porque não sabia qual a categoria que eles pertenciam.

Bom, posso dizer que os 35 primeiros k foram muito deliciosos apesar de já mostrar imponentes subidas e descidas, e se não me falha a memória, foi quando tomei uma bronca chegando na primeira cidade, porque deixei a Luciana e desci imprimindo um ritmo mais forte, e ouvi que apesar de eu estar me sentindo bem, qualquer deslize ou exagero ali no começo poderia faltar no final… acreditem e tenham isso em mente: qualquer energia faz falta!

Se fosse pra resumir a prova em uma palavra eu resumiria em subidas. São subidas dentro de subidas, e mais subidas e até subidas no meio das descidas!

Estávamos seguindo o planejamento, e até adiantados no horário. Seguíamos a prova nos divertindo, os apoios cuidando da minha alimentação, hidratação, suplementando na hora certa, minha preocupação era só correr e chegar no carro de apoio no próximo ponto. No começo parávamos de 5 em 5 k e depois fomos adaptando.

Kilômetros e horas se vão… o dia vai passando e você continua a subir e descer, a correr quando é possível… posso dizer que ao menos 50% ou mais da prova você faz andando.

Algo muito bacana e peculiar nas ultramaratonas é a camaradagem de todos os carros de apoio com os atletas, independente de quem sejam, e nessa não foi diferente: acabamos fazendo muitas amizades no caminho e acabamos sendo anjos da guarda de alguns atletas no caminho também. Lembro de um fato curioso de um atleta que furou o camelback e que improvisamos outro com uma garrafa pet.

O clima estava ameno apesar do sol, e isso causava um certo alivio e maior conforto para correr, e dava até para apreciar a paisagem de vez em quando.

Minha prova se resumiu a dois momentos: antes e depois de saber minha colocação. Cabe cabe esclarecer que o meu objetivo nesta prova era completar ela vivo, e me divertir muito depois.

Pc (posto de controle) após PC eu chegava, informava meu número ao fiscal, arrumava algo e partia. Seguia com meus pacers, contando histórias, dando muitas risadas e ganhando mais e mais terreno. A ansiedade porém ia aumentando conforme chegávamos mais perto do Km 95, final de uma das categorias, pois lá era o começo da subida do temido Pico do Papagaio, trecho que iria ser finalizado no Espraiado do Gamarra num total de 40 km, que pra vocês terem uma idéia fiz em mais ou menos 9 horas.

Chegamos a Aiuroca (km 95) umas 21:00h. Sentei um pouco (sim, sentamos e paramos muitas e muitas vezes pelo caminho, para alongar, comer e descansar), comi um macarrão quente e uma canja maravilhosa! Aquilo foi um manjar dos deuses pra quem tinha comido castanhas, barrinhas, gel, bisnaguinhas e etc o dia todo. Depois me troquei para me agasalhar muito, pois o frio estava forte: calça, segunda pele, camiseta, corta vento, bandana no pescoço, badana na cabeça, gorro e luvas. Equipamos as mochilas, pegamos alimentos, muita água, gatorade, rehidrate, gel, e depois de meia hora ali parados começamos a subida insana de 15 k.

Curva após curva, subida! Algumas o chão de cascalho escorregava, outra parte pedras soltas, outra o chão cravejado de pedras pontiagudas, e nós lá subindo… mesmo apoiando no stick walk o cansaço era extremo…

Chegamos ao que eu pensei ser o topo. No final das subidas, descemos 1 k em direção da Cachoeira dos Garcias, pena que estava de noite pois o visual deste lugar é de extrema beleza. Nessa parte existe um hostel, com um restaurante embaixo, onde estavam servindo sopas para os participantes. Podíamos nos servir a vontade por R$ 10,00, mas o esperto aqui não tinha levado um tostão… rs… mas com jeitinho, eles nos serviram e fiquei de acertar com a organização da prova o que lembrei de fazer no dia seguinte que cheguei.

Revigorado mas tremendo de frio por conta da parada, fui para o que pensei seria a parte mais fácil: a descida. Ledo engano, pois ela é bem técnica, com terrenos variados, e inclinações insanas, exige atenção o tempo todo, o que estava faltando em mim, pois a essa altura o sono era muito forte. Devo a minha pacer não ter acontecido nada nada trecho, pois ela ficou atenta a mim o tempo todo, conversando comigo o tempo inteiro. Posso resumir que essa descida foi a pior que fiz até hoje! Fora que no meio dela tem a pior subida de todas.

Chegando no Espraiado do Gamarra PC do 135k, estava amanhecendo. Eu precisava dormir um pouco e após ir ao banheiro e comer algo, deitei por exatos 20 minutos. Nossa parada durou 40 no total, e por incrível que pareça, esses 20 minutos como dizemos, me zeraram. Aqui teve um fato engraçado que ilustra como acordei melhor: a minha garrafinha de água caiu e a pacer disse para eu continuar que ela voltaria para pegar, mas não me alcançou mais… cheguei ao carro de apoio e sai com o outro pacer pedindo para que a fossem buscá-la. Eu estava correndo solto e feliz.

Por volta das 10 horas da manhã chegamos a um PC e foi quando começou a outra parte da minha prova: pela primeira vez tive curiosidade de saber em que colocação que eu me encontrava, e perguntei ao fiscal. Eles marcam em uma planilha o número, nome e horário que as pessoas passam. Ele contou a quantidade de pessoas na minha frente e disse que eu estava em 11º lugar.

Com essa colocação eu já estava muito feliz, afinal uma prova destas terminar, já era algo inimaginável. Sentei para trocar o tênis e costurar umas bolhas, eis que ele volta e diz: “opa, me enganei! aqui estão todos os participantes que já passaram, com e sem apoio inclusive quartetos, você na verdade está em segundo e aquele Japonês que está sentado a uns 40 minutos ali é o primeiro, se sair agora você é o primeiro.”

Aquilo teve um efeito psicológico terrível em mim, pois eu tinha ido pra participar e agora tinha a possibilidade de ganhar a prova Sai feito doido, a achei que tinha que manter um ritmo maior, olhava pra trás, e a qualquer sinal de atleta acelerava. Ficava menos tempo parado do que o habitual e imprimia sempre um ritmo mais forte… Resultado? No km 198 eu quebrei fisicamente! Estávamos eu e o Danilo correndo, olhei pra ele e falei: “sai daqui, eu quero ficar sozinho”. Meio contrariado ele foi, e depois me contou que eu discutia comigo mesmo. Cheguei no carro, que estava 2 k na frente e disse que estava muito cansado e precisava deitar. Deitei e coloquei o pé pra cima por uns 10 minutos. Eles me disseram que eu fiquei resmungando… Quando me senti descansado fui tentar por o tênis de volta e o mesmo não entrava!  Olhei o pé da Luciana e pedi a croc dela. Foi quando o segundo colocado, que não era mais o Japonês, passou como se tivesse começado a prova naquele instante. Sem titubear sai atrás dele, mas sem resultado, pois ele foi se distanciando cada vez mais, e aquilo me quebrou pisicologicamente. Fiquei me lamentando e murmurando durante bastante tempo, corri uns 4 k de croc ao lado do Danilo que naquele momento foi fundamental, pois ele me chamou atenção: “Cara que porra, qual seu objetivo na prova, não é se divertir e terminar? Então vamos nos divertir e terminar, para de viadagem.”  Foi ai que eu voltei ao game… mas isso me custou uma hora e meia que levei do km 198 ao 201k,  onde era o último PC.

Eu ainda teria outra surpresa: já eram 18 horas, a noite caída, e paramos para tomar outra sopa oferecida pela organização. Quando estava lá, quem me aparece? O japa, meio recuperado, mas apoiado em dois sticks. Acho que se ele não resolvesse parar ali e seguisse, eu ia cair novamente. Tratei de me arrumar e parti para os últimos 34 mais insanos km que eu iria percorrer.

Resolvemos parar o carro de 3 em 3 k, meu pé não entrava em mais nenhum dos meu tênis! Então peguei o tênis do Osvaldo, que eram 2 números maiores, e apesar de mais confortável, meu pé estava tomado de bolhas e a dor era insana.

Começamos a subir, subir e subir, e toda vez que eu ameaçava olhar para trás, meus companheiros me distraiam. Eu não percebi essa preocupação deles e sempre seguia em frente. As dores na lombar começaram a serem sentidas, devido a estar apoiando em apenas um stick walk… Em um trecho que o Danilo estava comigo, onde reclamei e gemi muito de dor nos pés e nas costas, como que por um milagre apareceu um cajado, da mesma altura do stick e até com uma furquilha para encaixar a mão. Parecia que alguém estava ouvindo minhas preces, e isso não é força de expressão não. Fiz grande parte deste último trecho mais calado, sem vontade de falar com ninguém, e rezando muito pra chegar, pois o estado de exaustidão era insano.

Apesar disso tudo fiz a subida num ritmo muito bom após achar o cajado, com 4 apoios parecia que ficava mais fácil. Meus companheiros mantinham a alegria e mesmo eu sabendo que estava insuportável de chato, se mantinham felizes e agradáveis.

Chegou a descida, e a distância que o carro ia parando diminuiu para 1,5 k. Apesar do meu pé estar destruído e eu morto, meus pacers não deixavam eu parar muito, sempre se apressavam em me reabastecer para seguir logo, ponto após ponto, chegada após chegada. Só fui entender o porque quando a prova terminou: a rapidez foi devido a eles terem avistado um carro de apoio e uma lanterna, e saberem que se alguém chegasse  próximo a mim, faria com que me quebrasse novamente.

Finalmente por volta de umas 20:30 h chegamos a placa que indicava que Passa Quatro, e consequentemente a chegada, estavam a 12k (ainda suspeito ser um placa mentirosa apesar de ter marcado a distância, pois pareceram aos meus olhos 80 k).

Passa Quatro a 12k?

Nesse trecho quero destacar duas coisas que foram importantes: rodados uns 6 km, eu cansei e pedi 2 minutos sentados, e mesmo eles me apressando, peguei meu celular e vi que tinha uma mensagem da minha esposa dizendo que estava lá na praça me esperando pra chegar comigo (detalhe ela não tinha ido, visto que está grávida e é uma região de risco de febre amarela). Aquela mensagem me deu um ânimo e voltei com tudo!  Comecei a descer bem rápido, passo a passo, com muita dor… Começamos a avistar a cidade, e claro que algumas lágrimas já começaram a rolar.

Chegando no asfalto, qual não foi minha surpresa quando um carro de apoio passa e fala: “bom final de prova guerreiro”. Meu, aquilo me gelou, larguei o stick e o cajado, sai correndo e falei me “encontrem na praça”. Corri aquele ultimo k como se não houvesse amanhã, e olhava pra trás toda hora… mesmo não vendo nada corria mais e mais rápido! Quando avistei o pórtico, a música do Senna tocando, eu procurando minha esposa (que não estava lá nada…rs), os olhos sem enxergar com as lágrimas, cruzei aquela linha de chegada e ao me ajoelhar para agradecer, 2 anos de história vieram em minha mente.

Sigo sem entender que feito foi esse, e o porque as pessoas me cumprimentam espantadas e admiradas. Sinceramente sinto que cumpri a missão a que me propus e provei a mim e somente a mim que eu era capaz e era bom em alguma coisa.

Ainda tenho que citar mais algumas pessoas muito importantes as quais tenho que agradecer:

Renan: Falei de você lá em cima, mas cara, não tem palavras pra descrever a admiração, como acho você foda como atleta, como aprendi com você neste último ano e meio, como conversamos, como treinamos e como nos entendemos, somos de fato irmãos de alma.

Rodrigo: integrante do quarteto mágico da BR135+, amigo, parceiro, torcedor, grande homem, pai, sempre com sorriso no rosto e um coração extremamente do bem… amo você cara.

Gilmar: meu negro gato, do sorriso encantador, querido por todos, forte que nem um touro pra subidas, que subiu comigo a temida Luminosa (“no passinho do macaco”), você sabe como admiro sua história e o como é importante na minha vida.

Maria Lucia e Wilson Carlos meus amados pais, sem os quais eu nada seria… são meu porto seguro, meu exemplo, minha inspiração. Sou apenas fruto do que vocês me ensinaram! Obrigado… gratidão eterna.

Laura minha primogênita, a mulher que literalmente mudou minha vida pra melhor e me fez entender o que é amor de verdade, e como quero ser melhor por ela, ser exemplo e me tornar alguém que ela admire.

Clínica Paulista pelo apoio e por sempre me ajudarem na minha preparação e minha recuperação… Dr. Alan você é um profissional fantástico.

Dra. Tatiana Gabanela, que em menos de um mês mudou minha alimentação e fez minha energia voltar. Obrigado.

Pra finalizar vou citar duas frases: uma que se tornou um mantra, que me foi dita pelo Gilmar: “Você é do tamanho do seu sonho”

A segunda uma que sempre digo: “O amor é a resposta para tudo”

Se tirei algo disso tudo: posso dizer que sou outra pessoa, e gosto mais dessa pessoa de hoje.

Thiago @correteago

5 comentários sobre “Ultra dos Anjos Internacional – 235km!

  1. Vai que é tua Thiagão! Ou será “boião”! Parabéns pelo objetivo alcançado!
    …e quando será a prova na Antártida ou no Ártico?
    Sucesso sempre!

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  2. Demais ler tudo que viveu …
    Demais sentir um pouco disso com suas palavras …. foi incrível….
    Muita admiraçao por vc !!!!
    Parabéns mais uma vez
    Bjao

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