Eu não sou ninja…

Não sou Ninja. 

 

Em um sábado frio e chuvoso, 31/08, tive a honra e o prazer de participar da Mizuno Uphill Challenge, corrida de 25Km, partindo do município de Lauro Müller, percorrendo caminho tortuoso até Bom Jardim da Serra, região pacata e simpática de Santa Catarina. Consta desse caminho tortuoso a já famosa e temida Serra do Rio do Rastro. Quem é do mundo da corrida já conhece a fama dessa prova. Dura, impiedosa, porém recompensadora para quem a respeita.

 

Quem me conhece sabe da paixão que tenho pela corrida. Muito embora não tenha a pretensão de performance, correndo mais por satisfação, tenho profundo respeito pelo esporte e por quem o pratica, seja qual for o estilo. Ok, porém isso não é o bastante para a Uphill.

 

Me inscrevi no sorteio meio como quem não quer nada. Pensava que, sendo sorteado, era treinar e chegar lá em cima antes das quatro horas regulamentares. Pensava que, já com algumas meias maratonas, inclusive várias trail no currículo, daria para concluir e ainda me divertir no percurso.

 

Essa idéia começou a se mostrar um tremendo engano quando subimos a serra para pegar o kit. A cada curva num subir íngreme e aparentemente sem fim, um misto de apreensão e receio aumentava de intensidade. Nunca na história desse país senti algo assim antes de uma prova. Parecia que a Serra (sim, com “S” maiúsculo, com a respeito que ela merece) estava me dando um recado meio que sarcástico até: “Aí, mané! Que cara é essa? Assustou? Tava pensando o quê?”.

 

Não consegui mais relaxar. “Não me preparei o suficiente”, “deveria ter treinado mais forte”. Cara, ela me assustou, de verdade.

 

Porém, já que estamos aqui, vamo que vamo! 

 

Serra do Rio do Rastro – SC

É tudo muito diferente de tudo o que já vivi na corrida. É tenso por causa dos cortes e também por causa disso uma solidariedade impressionante embala todo mundo! As pessoas vibram, sofrem e se ajudam parecendo que se conhecem há anos. 

 

Mantive o planejamento até faltarem 12km para o final, quando o Garmin já não mostrava os batimentos cardíacos e sim sugeria ligar 193. Uma cãibra surreal na coxa esquerda, depois a direita ficou com ciúme e cãimbrou forte também. O frio foi aumentando, trazendo uma garôa constante. Comecei a rezar já com a certeza de que não chegaria no tempo regulamentar, porém queria chegar. Tinha que chegar!

 

O sol se foi. O frio dominou o ambiente. As dores se multiplicaram. Comecei a buscar situações que me tirassem a vontade de desistir da cabeça. Conversei com muita gente. Sensacional como a gente se une quanto tá todo mundo na merda. Cápsulas de sal, relaxantes musculares, rapaduras, géis e similares eram trocados junto com palavras de força, motivação.

 

Faltando cinco quilômetros já não mais sentia dor, já não coordenava mais os pensamentos. Andava por que sabia que precisava andar. Evitava olhar para cima, por que olhando, via aquelas luzinhas amarelas embaçadas pela garoa serpenteando, serpenteando, pareciam tocar o céu.

 

Não queria parar, não podia parar. Olhei o relógio faltando pouco menos de dois quilômetros e faltavam três minutos para o tempo limite. Tudo bem, só queria chegar. Eu tinha que chegar.

 

Não, não consegui o que vim buscar, porém expus corpo e mente a uma provação que nunca havia exposto. Conheci uma força que jamais imaginei ter. Percebi que posso muito mais do que minhas convicções me diziam.

 

Sem pieguice e muito menos lugar comum, saí da Serra outra pessoa. Melhor, mais confiante, muito mais forte!

 

Não sou Ninja…ainda…

 

Relato incrível do participante da Mizuno Uphill 2019, Ricardo Jaloto @correrpensando

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