Mizuno Uphill Marathon 2016

Hoje temos o relato emocionante do Greg, nosso amigo querido que completou a Mizuno Uphill, prova de sonhos de muitos corredores:

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“Quando a Mizuno Uphill Marathon foi oficialmente lançada lá em 2013, eu ainda era praticamente um novato no mundo das corridas supervisionadas por uma assessoria esportiva.

 Sou corredor desde 2007, mas foi a partir de Julho de 2012 que eu comecei a treinar com a supervisão de um treinador pertencente a uma assessoria esportiva, a Branca Esportes, sendo muito bem representada pelo treinador Gustavo Abade.
 Pois bem, à época eu, que ainda nem sabia o que era uma maratona, achei aquilo tudo uma loucura sem precedentes. Dizia: “Correr uma maratona deve ser algo impossível! Correr uma maratona em subida então, impensável!
 Fiz minha primeira maratona em Abril de 2014, em Santiago e posso dizer com toda a certeza que a maratona realmente tem o poder de transformação que todos dizem. A segunda maratona veio em Outubro de 2014, em Buenos Aires, e eu pude sentir exatamente as consequências de se menosprezar a distância, pois quebrei feio no Km 25 e me arrastei com o corpo tomado de dores até o final da prova. A terceira veio exatamente 1 ano depois da primeira, em Paris (Abril de 2015), essa sim, plenamente concluída com um sub 4 horas. Não corri mais maratonas naquele ano pois me propus ao desafio de somente correr uma maratona por ano. Até então…..
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Vocês devem estar se perguntando nesse ponto, porque eu contei toda a minha história nas maratonas. Eu fiz isso para contextualizar a história que contarei adiante: me lembro bem de acompanhar amigos muito próximos da minha assessoria e também de fora dela relatando a experiência única que era fazer parte do seleto grupo de atletas selecionados a correr a Mizuno Uphill Marathon há exato 1 ano atrás. Eu já não achava aquele objetivo tão distante assim e tampouco considerava mais uma insanidade.
Pois foi na empolgação do momento que eu resolvi fazer a pré-inscrição para correr a edição de 2016 e, qual não foi minha surpresa ao saber que fui sorteado no dia 03/09/2015 para ter a oportunidade de entrar para o clã de Ninjas, como são chamados os que conseguem vencer esse desafio. Como resultado, o plano de se fazer somente 1 maratona por ano caiu imediatamente por terra, já que eu teria que usar uma maratona como treino para a Uphill. E essa foi a Maratona do Rio em Maio desse ano, onde eu emplaquei não só um novo sub 4 horas, mas com recorde pessoal baixando em quase 4 minutos o meu tempo de Paris.
Havia confiança de sobra para um ótimo desempenho na Uphill. Mas a vida sempre nos coloca em situações em que precisamos fazer escolhas e eu precisei fazer a minha: estudar para tirar uma certificação importante para a minha carreira profissional. Consequentemente, não tive tempo para treinar adequadamente como gostaria para o desafio que estava por vir. Teria que ser na raça!
Pois bem, chegou o grande dia! 03/09/2016 e eu estava lá, alinhado ao lado do meu treinador Emerson Bisan e pronto (só que não) para encarar a temida Serra do Rio do Rastro. A largada foi ao som de Enter Sandman do Metallica, logo após uma linda exibição oriental com samurais batendo uns tambores japoneses. Posso afirmar que a emoção que eu senti foi muito próxima a que eu senti na largada da minha primeira maratona.
A prova começa tranquila em uma estrada muito bem pavimentada, porém logo percebe-se que não se trata de uma simples maratona. Já no Km 8, elevação acumulada de 272 metros! Ficou difícil encontrar um ritmo confortável como todo início de maratona pede. Como tudo que sobe desce, do km 8 ao km 11, uma descida de 135 metros que poderia acabar se tornando uma bela de uma armadilha para o que ainda estava por vir. Segurei, portanto, o ritmo o máximo que pude. Daí em diante, mais ou menos até o km 21 é o momento em que é possível encaixar um ritmo adequado, pois a prova fica relativamente plana.
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No entanto, por um erro técnico ainda não muito bem esclarecido, por volta do km 18, o percurso foi alterado de forma a passar por dentro da cidade de Lauro Muller, acrescentando cerca de 2 quilômetros a mais na distância total da prova. Isso ficou evidenciado nas placas com a contagem regressiva de kms que passaram a apontar 2 kms a mais em relação ao que estava marcado no meu Garmin. Lembro-me bem de ter lido uma placa indicando que faltavam 17 km quando eu já tinha corrido 27. E é justamente nesse ponto que começa o martírio pois a altimetria sobe de cerca de 237 metros no km 21 para 364 no km 27, chegando a 1.418 metros no ponto mais alto.
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Desvio do percurso

Nesse momento a estratégia foi andar de um poste para outro e correr dois postes até onde as minhas pernas aguentaram. Chegou um determinado momento em que eu simplesmente não conseguia mais correr, somente caminhar. Até que, por volta do km 37 ou 38 eu me encostei na mureta da serra decidido a ficar por ali até a próxima moto passar e me levar pro mirante. Sim, eu pensei em desistir. Foi quando eu vi o Emerson chegando e ele me puxou de volta pra prova dizendo que eu já tinha chegado até ali e que não poderia desistir! Deveria manter meu corpo em movimento.
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Pois então, segui as instruções dele, tentando ignorar as dores que castigavam o meu corpo. Foi quando a impressão de que a marcação da prova estava errada se transformou na certeza de que deveríamos correr 2 kms a mais. Desnorteado, ainda tentei argumentar com um dos motoqueiros que subiam e desciam aquela serra em busca dos desistentes, mas o Emerson me disse que não adiantaria…teríamos que encarar. Foi quando eu busquei forças do fundo da minha alma e, dentre lágrimas, abaixei a cabeça e comecei a andar o mais forte que podia, sem olhar no relógio, sem olhar pra cima e encarar aquele paredão a que todos chamam de árvore de Natal, devido à disposição das luzes de iluminação da serra. Andei, andei muito, ignorei as dores e então comecei a ouvir bem ao fundo a voz do locutor e o tema da vitória do Ayrton Senna tocando. Chorei mais ainda….estava chegando.
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Do nada, levantei a cabeça e vi luzes mais fortes em meio àquela penumbra de chuva e neblina. Era o fim da serra. Os atletas vibravam! Eu tinha vencido! Comecei então a correr rumo ao mirante, a placa de 300 metros, outra placa de 150 metros, a menina da organização me parabenizando, o pórtico de chegada, chorei muito, as dores que eu havia ignorado voltaram todas de uma vez e eu gritei cruzando aquele pórtico e, em seguida, ajoelhando me no chão, num gesto de agradecimento à Deus e reverência à Serra do Rio do Rastro, pois essa sim, merece respeito!”
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2 comentários sobre “Mizuno Uphill Marathon 2016

  1. Parabéns meu filho Gregory.
    Seu relato e emocionante.
    Ninguém mais que eu pude sentir tudo que você relatou porque você veio de mim e eu sou parte de você.
    Parabéns filho.voce mereceu chegar.Amo você

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