BR 135+ Mais que uma corrida, uma história de superação, amizade e fé!


 A cada novo dia que nasce, nos surpreendemos com algo que nos acontece ou nos circunda… assim foi quando meu noivo me chamou para ser apoio dele na BR 135+. Quem vive com ultramaratonista e não tinha conhecimento desse tipo de prova antes vai me entender! Eu super topei, achando que seria uma prova como Bertioga-Maresias… Achei estranho ter uma prova onde se é necessário enviar o seu curriculum de provas, com tempos realizados para ter a inscrição aceita… Mas mesmo assim, eu estava nela! Programei minhas férias para poder estar mais livre e poder acompanhar e auxiliar o quarteto dele na prova (Já apresentamos o quarteto pra vocês no post sobre a Ultramaratona 24 horas). Foram muitos treinos e muita dedicação deles até a chegada do dia da prova. Abdicaram de Natal, Ano Novo e algumas confraternizações porque tiveram que realizar treinos, e manter o foco para o grande dia.

Foi no dia 11 de janeiro que eu realmente entendi o que estava acontecendo… quando caiu minha ficha e vi que realmente não era uma BM! Nesse dia fomos buscar os kits e participar do meeting da prova… Lá foram esclarecidos dúvidas, regulamento e trajeto… ali eu entendi a dimensão e onde eu estava… e da responsabilidade que tinha para deixar aqueles meninos o mais despreocupados possível para se dedicarem inteiramente ao sonho deles de completar os quase 260k da prova.

 

Fomos todas as esposas fazer o apoio para os meninos… tentamos criar para eles o melhor ambiente possível, para que se sentissem sempre confiantes e alegres, e que não esquecessem que não importava o que estivesse acontecendo, nós estaríamos ali torcendo e os apoiando.

E assim foi… a prova teve sua largada no dia 12 de janeiro, as 8 da manhã na cidade de São João da Boa Vista. Alí eles iniciaram o sonho, e nós a nossa peregrinação. Para quem não conhece, a prova tem parte do percurso dentro do Caminho da Fé, onde os peregrinos saem percorrendo caminhos que levam até a cidade de Aparecida. A prova era composta de 6 maratonas, é assim que a organização divide o trajeto… Sendo que a primeira maratona os quartetos e duplas eram obrigados a realizar juntos, todos correndo lado a lado, em uma distância máxima de 200m entre um e outro. Parece fácil assim né? Porque quem não gosta de correr com companhia?

 

Partindo de São João da Boa Vista, fomos para Águas da Prata. Alí seria mais ou menos mais da metade da primeira maratona… Eles se reabasteceram de água, alimentos e de amor para continuarem juntos até a descida do Pico do Gavião, onde se encerraria a primeira maratona e iniciaria o revezamento.

 Foram muitas aventuras do apoio até esse ponto… a organização dos pontos de final/início de maratonas não é muito bem sinalizada por que não existe um mapinha para o apoio seguir… Nos foram disponibilizados somente os desvios do Caminho da Fé que os carros não passariam devido a chuva… o próprio percurso deveria ser conhecedor de quem ali estava, ou estar atento as famosas “setas amarelas” que sinalizam o Caminho da Fé. No início necessitamos de muita informação externa até encaixarmos na prova (risos), mas depois de vista a primeira seta, seguimos confiantes com nossos atletas.

Será que eles se divertiram durante a maratona juntos?


No início do revezamento é permitido que as equipes realizem da forma que desejarem, cada um monta sua estratégia e segue. A nossa foi de estarmos sempre juntos e os meninos irem revezando de 5 em 5k, e readequaríamos conforme o cansaço. Com isso, estávamos sempre com eles, e toda e qualquer parada era motivo pra verificar se necessitavam de algo, se tinham se alimentado, se estavam com dores, cuidar para que tudo fosse perfeito do início ao fim.

O percurso da prova é muito doido… não conseguimos passar por todo ele devido aos desvios do carro, mas os meninos confirmaram: a prova subia, subia e subia! 90% dos trechos foram em estrada batida, com pedras, lama… o asfalto e as retas eram raras! Acabamos entendendo rapidinho porque era Caminho da Fé… pois tinham lugares que para subir com o carro era ruim, imagina correndo… Passamos perrengues com deslizes dos trechos que tinham barro, principalmente quando choveu. O que ajudou a acordar os atletas e a deixar o terreno mais liso. Aí a renasce mesmo, você pensa em muitas coisas e desacredita que tem pessoas que fazem esse caminho solo, e os peregrinos que o praticam a pé na caminhada…

Durante o percurso…

Para que se tenha uma noção do percurso da prova, o que eu só tive quando completamos, segue os locais que passamos, em torno dos estados de São Paulo e Minas Gerais: São João da Boa Vista, Águas da Prata, Pico do Gavião, Andradas, Serra dos Limas, Barra, Crisólia, Ouro Fino, Inconfidentes, Borda da Mata, Tocos do Moji, Estiva, Consolação, Paraisópolis, Luminosa, Pesqueiro próximo a Campos do Jordão. O trecho da Luminosa era uma subida de 17k… ali deu pra ver por cima das nuvens o que era passar por aquele trecho… que vista linda nós de carro e na chuva vimos, imaginando o que os corredores que vivenciaram aquela visão sentiram. Segundo os relatos, eles disseram que no topo, se estendesse as mãos para o céus, Deus bateria nelas! (risos).


 Não tivemos parada, fomos direto durante o dia, noite, madrugada… tiramos pequenos cochilos durante a madrugada, nos mantivemos juntos por todo tempo! Um sempre apoiando o outro, de olho no objetivo final, nos divertindo em cada situação e contornando as dificuldades… Fizemos uma família ali, e juntos conquistamos o término da prova. Nós do apoio nem corremos! Apenas fizemos pacer em um trecho ou outro da prova, até para conhecermos e vivermos um pouquinho dela de forma mais ativa… Mas aposto que cada uma de nós do apoio se sentiu realizada por estar ali e poder viver aquele momento, onde foi concretizado um sonho após 37 horas de prova!

Agradeço a oportunidade de ter vivenciado tudo isso… Agradeço ao nosso grupo por toda união que tivemos, por toda boa sintonia, pela energia boa que doamos uns aos outros… se eu tivesse que fazer tudo de novo eu faria? Na hora do perrengue eu respondi pra mim que não… porque realmente dá um certo medo de enfrentar algumas dificuldades… mas ao final da prova, analisando tudo que passou, sentindo de novo tudo que senti naquele momento eu digo que sim… aquele caminho realmente é mágico, diante de cada dificuldade aparece uma solução, e nos transmite tanta paz e compreensão que faz tudo valer a pena. Obrigada quarteto pela oportunidade de auxiliá-los! Obrigada meninas pelo carinho e apoio!

Nós ganhamos medalha de apoio 😊

Vou deixar agora o Quarteto Fantástico falar por si, para que vocês possam sentir o que eles vivenciaram correndo tudo isso:

Gilmar Paiva


“E chegou o grande dia!!! A largada da Ultra MARATONA BR 135…e uma mistura de sensações… 5 minutos antes da largada, uma ligação para a minha mãe e lágrimas de emoção e medo.. rsrsrsrs 

Tudo era novo.. A distância o ambiente…

Mais no decorrer da prova ganhei confiança… Corremos o dia inteiro e madrugada a dentro.. Parceria incrível esse quarteto… Estávamos bem e ainda fomos abençoados pela chuva… No último trecho era a temida LUMINOSA!! Subi os 17 kms com uma força incrível, única… Euforia e vontade de cruzar a linha de chegada tomou conta de mim.. 

Nosso abraço no final fez valer a pena cada treino, dor e toda ansiedade…

Ano que vem eu volto!!”

Renan Collodoro


“Foi uma experiência única, apesar de dolorida, cansativa e bem desgastante. As pessoas me olham com um pouco de estranheza quando eu falo que passamos 37h para fechar uma prova, que ficamos acordados, que corríamos de madrugada, com chuva, etc. Pelo menos não fez frio. Mas só quem estava lá pode ter certeza do que foram todos esses momentos, pois foi uma equipe única, tanto o quarteto do Revezamento (Thiago, Gil, Rodrigo e eu), quanto o apoio (Vivi, Gra, Re e Ju). Foram momentos indescritíveis desde a preparação, uma sintonia fina do quarteto, com muita risada e parceria, corremos uns pelos outros, mas também curtimos demais e tivemos a certeza do quanto o caminho da fé é realmente mágico, pois colocou pessoas incríveis em meu caminho, que me fizeram ter forças sempre, por mais que em alguns momentos a cabeça tenha pirado, por mais que o caminho para o carro tenha sido difícil, com muita lama. Mas o que eu levo pra mim dessa prova é que aquele ditado de que “tudo que sobe também desce” é balela, pois na BR135+, tudo que sobe continua subindo, mas subindo muito. É uma prova de extrema dificuldade, mas que faz as pessoas ficarem bem próximas umas das outras, mesmo com perrengue, mesmo com todas as barreiras, quando chega à noite, o silêncio toma conta, e você está ali correndo sozinho, se afundando nos seus pensamentos, como se não tivesse interferência nenhuma entre você e a sua cabeça, mas era o seu coração te mostrando que ali, tudo é possível. Agradeço demais ao meu quarteto e as meninas do apoio, com certeza sem elas essa prova não teria sido tão bem feita, não teria sido tão curtida e não teria sido possível”.

 Rodrigo Lourenço


“Em janeiro de 2016 quando assisti a largada da BR135 em um vídeo postado no face, eu disse que um dia faria essa prova, só não imaginava que seria 01 ano depois. Em setembro de 2016 fechamos o quarteto, nos reunimos com nosso treinador Emerson Bisan, enviamos os currículos, fomos aprovados. Começou a brincadeira, foram treinos em cima de treinos, inclusive na véspera do natal e ano novo… e eu que achei que na BM tinha treinado muito…kkkkkk Para a BR foi no mínimo o dobro de volume de rodagens. No dia 12/01/17 lá estamos alinhados para largada, emoção batendo forte… imagina largar para uma prova sabendo que você só vai chegar no mínimo 35 horas depois… Passa um filme da sua vida na cabeça! Rezei bastante, pedi proteção para todos que ali estavam e partimos. Os primeiros 42k (1ª maratona) obrigatoriamente os 04 devem fazer juntos lado a lado. Nossos apoios durante a prova foram nossas esposas, as 4 foram mais meu filho mais novo Gabriel de 06 anos. Finalizamos a 1ª maratona em 06:50hrs, tempo dentro do nosso programado. Mas nesses 42k ja sentíamos que o negócio não era brincadeira realmente, lá tudo que sobe não desce, e quando desce, desce pra valer! Subidas e descidas insanas… após finalizado a maratona começamos a revezar a cada 5k. Durante a madrugada não me senti muito bem e fiz 03 rodagens de 3k cada. Depois de amanhecer paramos em Estiva-MG, tomei um belo café e tudo voltou ao normal. 

A prova inteira é realizada no caminho da fé… existe uma energia naquele lugar que não dá para explicar, só estando lá para saber! Por volta de 16:00hrs caiu uma chuva fortíssima e por incrível que pareça a chuva serviu para animar a todos, afinal correr na chuva lava a alma….rsrsrs

O último trecho, a famosa subida da “Luminosa” tem 17km onde a estimativa de subida são de 03:00hrs… eu não estava tão bem para enfrentá-la, mas queria fazer o percurso (estava me preparando psicologicamente para subir). Esse trecho não é possível o carro acompanhar e foi quando as meninas pediram para que não fossem os 4, pois o atalho para ir até a chegada de carro não era dos mais fáceis… assim só 02 poderiam subir, pois estávamos em 02 carros. Ficou eu e o Renan e subiram Gil e Thiago. Aguardamos eles na saída da trilha da Luminosa para fecharmos os 04 juntos… na verdade os 09 juntos! Pois cruzamos a linha de chegada todos unidos, as 21:50hrs do dia 13/01, totalizando 37:50hrs de prova! Todos inteiros, sem nenhuma lesão. Cruzar a linha de chegada de uma prova dessa dimensão é algo inexplicável….. percorrer o místico Caminho da Fé mesmo que parte dele te deixa renovado… pronto para enfrentar os problemas do nosso dia a dia. Agradeço a Deus primeiramente por ter me dado mais essa oportunidade……a todos amigos que torceram, que enviaram mensagens de incentivo, os amigos que gravaram o vídeo, ao nosso treinador Emerson Bisan que mais uma vez nos ajudou a realizar mais um sonho, a nossa “chefa” rsrsrs Aurea Bisan que sempre cuida da logistica e todos detalhes com todo carinho, a minha esposa Renata que se dispôs a passar todos aquele perreio kkkkk e meio pequeno Gabriel, e nossas Staffs Gra, Vivi e Ju…..aos companheiros do quarteto nem tenho o que falar Gil, Thiago e Renan…..irmãos que vou levar pra vida toda…..ahhh BR135 que saudades……..2018 se Deus quiser estou de volta dessa vez em dupla!”

Thiago Matarazzo


“Poderia escrever um livro desta prova, mas como tenho poucas linhas vou resumir em palavras:
Amor…pq foi o que colocamos em tudo nessa prova;

Amizade…foi o que se formou de verdade nos longos meses de preparação;

Surpresa…pois elas nos brindaram com isso o tempo todo e pelo que alcançamos;

Família… porque no final de tudo foi o que se formou e permaneceu;

Agradecimento… a Deus e a essa família pela oportunidade de viver isso.”

E claro que não podia faltar também o depoimento da minha companheira de apoio:

Vivian Alves


“Ser apoio sempre traz uma tensão. A missão é clara: manter o atleta focado na prova, e cuidar da logística, resolver os perrengues e mantê-lo em segurança. Ser apoio na BR135+ aumenta a tensão: terreno difícil, muito calor durante o dia, frio a noite, chuva, barro…muito barro, uma noite sem dormir…

Mas nada disso importa quando a vibe da prova te contagia. Essa energia já tomava conta antes da largada, a cada conversa no grupo, cada encontro. Minhas parceiras contribuíram e muito pra isso: nossa empatia foi imediata e agimos todas em super sintonia. Pensamos em detalhes importantes e não tão importantes, como algumas surpresas pra motivar os nossos monstros guerreiros, rs. E foi lindo ver cada uma se preocupar com algo, e tudo ir se encaixando, e ver tudo acontecer. O quarteto é uma história a parte. 4 sonhadores, guerreiros, palhaços e lindos, hehehe! Totalmente diferentes entre si, que se completam de uma forma tão linda.

A energia que vai tomando conta pelo caminho da fé é algo inexplicável. Pra mim ficou a lição clara de que, tudo tem uma razão e sempre há solução, contanto que confiemos. E curta o caminho, resolva os problemas conforme eles apareçam.

260 km depois, estamos na linha de chegada. Ainda não caiu a ficha do que fizemos. Missão cumprida! Medalhas entregues, sorriso no rosto, todos sãos e salvos. O quarteto de esposas também recebeu medalhas pelo apoio e as lágrimas rolaram. Ufa, acabou! Ali mesmo já bateu a saudade. E uma sensação de que mesmo com todos os perrengues, aquele era o melhor lugar pra estar e que faríamos tudo de novo, do mesmo jeito! Parabéns quarteto! E obrigada por nos permitirem participar do sonho de vocês!”


Esperamos que consigam sentir um pouco da energia que essa prova representa! Porque ela nos transformou, nos mostrou que nada é impossível e claramente nos provou que a união com o mesmo propósito fortalece a amizade e a alma 😊

@julibak

2 comentários sobre “BR 135+ Mais que uma corrida, uma história de superação, amizade e fé!

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